Vivendo sem paredes

No loft há apenas duas divisórias de vidro leitoso com um sistema de iluminação que, à noite, as transforma em grandes luminárias

6/10/2010



A estrutura de vidro que divide a sala e a área do banho tem, de um lado, prateleiras de aço e, do outro, o guarda-roupa

Quando morou em Nova York, em 2003, este jovem profissional liberal caiu de amores pelos lofts – e pelo estilo de vida que esses grandes espaços comerciais transformados em residências proporcionavam. Viajante apaixonado, passou, então, a privilegiar esse tipo de construção na hora de escolher os hotéis em que iria se hospedar. Até que, em uma rápida visita a Buenos Aires, em 2006, recebeu da namorada o empurrãozinho que faltava para decidir que queria viver definitivamente em um apartamento sem paredes. “Por que viver assim só nas férias?”, perguntou ela. “Você não acha que poderíamos ter isso todos os dias em São Paulo?”

Na época, ele já estava em busca de um imóvel para comprar. Conversando com amigos sobre a nova ideia, descobriu que uma antiga colega de colégio, arquiteta, vivia em um apartamento todo aberto, que ela própria reformara. Foi assim que Lua Nitsche, da Nitsche Arquitetos Associados, assumiu o projeto. O primeiro passo? Encontrar o apartamento certo, com uma estrutura que permitisse colocar tudo abaixo e criar, em um só ambiente, espaços flexíveis e funcionais. “Além de pé-direito alto e janelas amplas, as áreas molhadas devem ficar nas extremidades”, explica Lua. “Se os banheiros ou a cozinha estiverem na porção central, a integração dos ambientes é prejudicada, visto que não é possível mudar as colunas hidráulicas, que servem o prédio todo, de lugar.”

Eles visitaram quase 30 imóveis, em bairros com boa oferta de edifícios antigos, como Barra Funda e Higienópolis. Neste último, encontraram, em um prédio de 1947, um apartamento de 191 m² e com pé-direito de 3,10 m. Outra boa característica era o formato quadrado da planta. “Em apartamentos retangulares, é difícil evitar a sensação de corredor”, diz Lua. As obras levaram cinco meses. Todas as paredes foram derrubadas e as vigas, mantidas nuas, em cimento cru. O piso foi restaurado e o desenho com tacos em tom mais escuro denuncia as divisórias da configuração original.

Em todo o apartamento, há apenas duas divisórias fixas, feitas de vidro leitoso e dotadas de um sistema de iluminação que, à noite, as transforma em grandes luminárias. A primeira separa a cozinha e o ambiente de jantar da área de serviço. A segunda fica entre a sala e a área de banho, composta pelo box com ducha, um reservado para o vaso sanitário e a grande banheira branca de Corian – feita pelo Studio Vitty, reproduzindo o desenho da banheira de um dos hotéis que o casal de proprietários visitou durante as férias. A ideia das cortinas duplas de veludo vermelho também veio de uma viagem. “Precisava isolar o quarto quando recebo pessoas com quem não tenho intimidade e bloquear a luz da manhã”, diz o dono do imóvel. “Lembrei das cortinas que ajudavam a barrar o som e aqueciam o ambiente de um antigo celeiro convertido em hotel.” Executadas pela Toque Final Cortinas, com tecido da Donatelli, elas separam o quarto do home theater e este do living.

As janelas originais foram mantidas apenas no estar principal. “Como a rua tem bastante movimento, instalamos um sistema antirruído nas janelas dos antigos quartos para evitar que o barulho do trânsito reverberasse”, diz ele. Discretas cortinas de rolo brancas funcionam como blackout em todas elas. Ávidos leitores, os dois dizem que passam a maior parte dos fins de semana em casa, entre livros e revistas. Foi pensando nesses momentos que eles escolheram os divãs branco e preto da Minotti e os grandes sofás cinza da Micasa. “Conseguimos o que queríamos: um apartamento tão gostoso de ficar quanto os hotéis que escolhemos para passar as nossas férias”, diz ela.

Ele conta que, apesar de não dar festas com frequência, receber no novo apartamento é muito especial, principalmente durante a tarde, quando o sol muda de posição e projeta seus raios através da copa das árvores que formam uma cortina natural na janela do living. Em seu último aniversário, reuniu a família e os amigos para um brunch, em torno da grande mesa de jantar. De teca certificada da EcoLeo, o móvel tem pés de aço e foi projetado pela Nitsche Arquitetos. Pensando em dar flexibilidade ao ambiente, escolheu as cadeiras Supernatural, do designer britânico Ross Lovegrove, que são empilháveis e fáceis de transportar. “Ao longo da festa, as pessoas foram migrando para as outras salas, usando as cadeiras para formar novas rodinhas”, diz ele. A informalidade proporcionada pelo ambiente único é uma das características que mais agradam ao proprietário. Outra é a necessidade de ter tudo sempre organizado. “Não temos o quartinho da bagunça, então nossas coisas estão sempre à mão, no lugar certo.”

A caixa de vidro que divide a sala e a área do banho tem papel fundamental na organização da casa. Do lado do estar, ela contém prateleiras de aço natural, também desenhadas pela Nitsche Arquitetos, onde são armazenados os livros e objetos decorativos, como o vaso trazido da Turquia e a máscara grega. Na porção voltada para o banho, ficam as prateleiras, caixas e araras que formam o guarda-roupa. “Estamos tão aclimatados a esse estilo de vida que não pretendemos nos mudar quando tivermos filhos.”

As janelas de vidro originais foram mantidas apenas no estar principal. Discretas cortinas de rolo brancas funcionam como blackout em todas elas.

VIVER SEM PAREDES

Conheça as recomendações da arquiteta Lua Nitsche para encontrar o imóvel certo para um loft e viver bem nele.

FACHADA UNIFORME

Observe se há unidade entre os caixilhos das janelas. Como não é possível alterar a fachada do edifício, se houver muita diferença entre elas, o resultado final pode ficar desequilibrado.

MÓVEIS SOBRE RODAS

Para tirar maior proveito da ausência de paredes, tenha móveis multifuncionais e com rodízios, que podem ser arrastados para criar novos ambientes.

EXAUSTOR POTENTE

Uma coifa comum não é suficiente para quem realmente pretende utilizar a cozinha. Instale um exaustor industrial, com maior poder de sucção.

A planta atual do apartamento mostra que quase todas as paredes foram eliminadas

Fonte: estadao.com.br